Desconheço que os portugueses sintam algum desconforto em relação ao seu modo de ser, podendo dizer-se que há um “povo português”, cimentado por uma coesão histórica de séculos, tal como há uma “comida portuguesa”, para não falar da “saudade”, palavra que expressa um significado bem característico de ser português.
Depois de algum tempo no Canadá, observo que não há uma “comida canadiana”, nem um “povo canadiano”. Da leitura dos jornais e das conversas, embora mais académicas, poderei dizer que a identidade canadiana é muito fluida, talvez pelo facto de o Canadá ser hoje em dia um país de migrantes, um país com muitas raízes multiculturais.
Daí que o canadiano, regra geral, veja dois tipos de povos: os migrantes, que fazem do país um vasto mosaico de línguas, e os aborígenes, os nativos, fortemente identificados na cultura e no artesanato. Por isso, o canadiano considera-se um colonizador dos aborígenes, olhando com nostalgia para o passado dos índios que o Canadá, enquanto nação e país, assimilou.