fevereiro 24, 2014


PAREDES DE COURA [Vítor Paulo Pereira]

 

“O novo presidente da Câmara de Paredes de Coura é um dos indivíduos mais preciosos que em toda a vida encontrei. O Vítor Pereira, com 44 anos e o modo mais transparente de alma, é uma fi gura de benignidade ostensiva e eu não sei se haverá no mundo outra pessoa assim.

Nunca me passou pela cabeça que ele pudesse vir a ocupar um cargo destes. O que eu sabia do Vítor passava sobretudo pela intensidade dos afectos, a disponibilidade para os outros, o amor pela esposa e pelos filhos. Em Coura todos o conheciam. Ele mistura-se com quem andar na rua. Não tem filtros e não aguenta adiar abraços.
Colecciona as histórias pícaras da terra. Ri-se desbragadamente, apoliticamente, como se rir fosse mesmo a melhor das inteligências. Por ser assim, é o que mais tem para dar aos outros, uma energia honestamente votada à felicidade de existir.
O que verdadeiramente me impressiona no senhor presidente da Câmara de Paredes de Coura é, no entanto, a sensibilidade. A sua comoção com as coisas, a celebração dos dias mas também a tristeza sempre consciente do que a vida nos vai fazendo.
O que nos tira, quem nos tira, quem nos vai tirar. Eu, que sou um aflito com sensibilidades, percebo bem aquilo que candidamente o Vítor conta. Entendo e acho que a humanidade só existe quando, exactamente, fazemos da felicidade e da tristeza um assunto que chega também, ou sobretudo, dos outros.
Eu não tenho dúvidas de que muitos presidentes de câmara serão imbuídos de um espírito construtivo, um espírito bom, mas não acredito tanto que o nível de lisura do Vítor se repita completamente. Seria a salvação do mundo, se em cada dez houvesse ao menos um assim. Coura inaugurou, antes do Verão passado, a nova biblioteca, a de Aquilino Ribeiro. Uma casa recuperada que se estendeu e que fi «ca de vistas para a paisagem.
Quando subimos às salas de leitura não sabemos se devemos ler ou pasmar nas janelas. Parece a diferença entre ler os livros do Aquilino Ribeiro e ver os livros do Aquilino Ribeiro diante dos olhos expostos.
Fui à nova biblioteca falar com os alunos do secundário e, à noite, com o público geral. Em ambas sessões me vi brevemente apresentado pelo Vítor que, correctamente desimportado com o que vem na wikipédia, repetiu que somos amigos. Pus-me de peito inchado, porque também tenho orgulho e nem sempre o disfarço.

(...)  Um dia destes volto. Vou voltando sempre. Agora, mais do que nunca, feliz por acreditar que Paredes de Coura está magnificamente cuidada pelo Vítor Pereira.  Um homem de profunda boa fé”

 

Valter Hugo Mãe, escritor, Jornal PÚBLICO, 23.2.2014.

fevereiro 10, 2014

Tribunal de Paredes de Coura


Foi encerrado o tribunal de Paredes de Coura.
Por decisão de um governo neoliberal, em nome do PSD e CDS.  De um governo que desgoverna. De um governo que tira a identidade às freguesias, impondo, à força, uma união não desejada.
De um governo que gosta de pôr o pé em cima das pessoas, humilhando-as a todos os níveis. De um governo que não olha a meios para atingir os seus fins, ou os interesses financeiros de uma troika, sem rosto e sem orientação.
De um governo que empobrece as pessoas, engordando os senhores do dinheiro, sobretudo se forem estrangeiros. De um governo que volta as costas ao interior, querendo transformar o país num longo e estreito corredor do litoral que vai de Porto a Lisboa.
De um governo que é forte para com pobres e fraco para com os ricos. De um governo que não cumpre a palavra. Que não sabe o que é o sofrimento social de muitos portugueses.
De um governo que se esqueceu das promessas eleitorais, tendo-as metido na gaveta. De um governo sem alma social. De um governo sem memória, sem compromissos com os portugueses e subordinado a interesses económicos estrangeiros.