março 19, 2018

Rede(s)


Vivemos os dias de correm de um modo diferente, talvez mais isolados a nível individual, cada um na sua casa de interesses, mas muito mais integrados em comunidades de partilha de ideias, imagens e emoções, como se verifica pelo uso das redes sociais.
Se o blogue passou de moda, embora a resistência de alguns seja de registar, facebook e companhia aí estão para nos dar uma outra vida. Ainda por estes dias, pelas imagens da Cecília, uma fotógrafa do quotidiano courense, como tantos outros, pude ver o rio Coura correr desenfreadamente sobre o penedio que existe desde a Ponte da Peideira até ao fim do lugar de Santa. Apesar de estar longe, estive lá, de facto, e como essas imagens me levaram para os invernos rigorosos da infância!
Se este é o lado bom das redes sociais, o lado negativo está no modo como as empresas de gestão de dados brincam com a nossa individualidade e, mais ainda, como nos criam uma mente de colmeia, ou seja, estamos umbilicalmente ligados ao acontecimento, mais precisamente àquele acontecimento que os outros desejam para nós, veja-se o exemplo aberrante das “notícias falsas”, que só por si geram uma realidade que não é verdadeira, tornando-se ela própria alternativa e convincente, aquilo a que se chama sociedade da pós-verdade.
Lendo o livro “Tecnologia versus Humanidade”, recentemente publicado, escrito por um teólogo europeu, a realidade das redes sociais é tremendamente perigosa, pois adoramos estar ligados uns aos outros, como diz o autor, e alguns de nós gostam da emoção de cada gosto, mas daquele gosto que seja sincero e pessoal e não clicado por uma máquina ou empresa.
E, seguindo as ideias do mesmo autor (Gerd Leonhard), quando damos as nossas informações pessoais, a troco de uma excitante plataforma global gratuita, a uma empresa que a controla, como é caso do Facebook, não assume qualquer responsabilização por aquilo que fazem com essas migalhas digitais que recolhem sobre nós.
 Quer dizer, assim, que quando estamos em rede, quando publicamos seja o que for, ou mesmo quando fazes um clique em “gosto” ou quando escrevemos um comentário ou fazemos uma partilha, há toda uma economia subterrânea que está a funcionar, uma vez que o seu modelo de negócio é vender-nos a quem der mais.
E depois são telefonemas de empresas disto e daquilo que entram nos nossos telemóveis, publicidade personalizada que nos aparece no ecrã do computador e do iPad, enfim, toda uma panóplia de estratégias de sedução da qual dificilmente nos libertamos, a não ser que tomemos a decisão de desligar-nos das redes sociais, ou mesmo de lá nunca entrarmos, mas, para o bem ou para o mal, essas redes já estão entranhadas no nosso modo de viver.
É como uma teia: bonita, no orvalho da manhã, e tão perigosa, paras as presas de uma aranha paciente.