Vivemos os dias de correm de um
modo diferente, talvez mais isolados a nível individual, cada um na sua casa de
interesses, mas muito mais integrados em comunidades de partilha de ideias,
imagens e emoções, como se verifica pelo uso das redes sociais.
Se o blogue passou de moda,
embora a resistência de alguns seja de registar, facebook e companhia aí estão para nos dar uma outra vida. Ainda
por estes dias, pelas imagens da Cecília, uma fotógrafa do quotidiano courense,
como tantos outros, pude ver o rio Coura correr desenfreadamente sobre o
penedio que existe desde a Ponte da Peideira até ao fim do lugar de Santa.
Apesar de estar longe, estive lá, de facto, e como essas imagens me levaram
para os invernos rigorosos da infância!
Se este é o lado bom das redes
sociais, o lado negativo está no modo como as empresas de gestão de dados
brincam com a nossa individualidade e, mais ainda, como nos criam uma mente de
colmeia, ou seja, estamos umbilicalmente ligados ao acontecimento, mais
precisamente àquele acontecimento que os outros desejam para nós, veja-se o
exemplo aberrante das “notícias falsas”, que só por si geram uma realidade que
não é verdadeira, tornando-se ela própria alternativa e convincente, aquilo a
que se chama sociedade da pós-verdade.
Lendo o livro “Tecnologia versus
Humanidade”, recentemente publicado, escrito por um teólogo europeu, a
realidade das redes sociais é tremendamente perigosa, pois adoramos estar
ligados uns aos outros, como diz o autor, e alguns de nós gostam da emoção de
cada gosto, mas daquele gosto que seja sincero e pessoal e não clicado por uma
máquina ou empresa.
E, seguindo as ideias do mesmo
autor (Gerd Leonhard), quando damos as nossas informações pessoais, a troco de
uma excitante plataforma global gratuita, a uma empresa que a controla, como é caso
do Facebook, não assume qualquer
responsabilização por aquilo que fazem com essas migalhas digitais que recolhem
sobre nós.
Quer dizer, assim, que quando estamos em rede,
quando publicamos seja o que for, ou mesmo quando fazes um clique em “gosto” ou
quando escrevemos um comentário ou fazemos uma partilha, há toda uma economia
subterrânea que está a funcionar, uma vez que o seu modelo de negócio é
vender-nos a quem der mais.
E depois são telefonemas de
empresas disto e daquilo que entram nos nossos telemóveis, publicidade
personalizada que nos aparece no ecrã do computador e do iPad, enfim, toda uma panóplia de estratégias de sedução da qual
dificilmente nos libertamos, a não ser que tomemos a decisão de desligar-nos
das redes sociais, ou mesmo de lá nunca entrarmos, mas, para o bem ou para o
mal, essas redes já estão entranhadas no nosso modo de viver.
É como uma teia: bonita, no
orvalho da manhã, e tão perigosa, paras as presas de uma aranha paciente.