setembro 19, 2006

Eduquês. Três livros. Três opiniões.

“Do outro lado surge uma opinião pública difusa, que se manifesta descontente com o estado actual da educação e que tem a noção intuitiva de terem sido os teóricos da pedagogia dita moderna a conduzirem à situação presente (…) Umas vezes, essa discordância incide sobre aspectos relativamente secundários, como a linguagem hermética seguida por muitos teóricos da pedagogia. Estes são acusados de falarem “eduquês” – um nome castiço e feliz que o então ministro Marçal Grilo usou para classificar essa linguagem esotérica” (Nuno Crato, O “Eduquês” em discurso directo. Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista, 2006, pp. 9-10).

A leitura deste livro é necessária? Talvez, embora o seu autor seja pobre nos argumentos que utiliza, nas fontes bibliográficas que consulta (exigir-se-ia muito mais a quem visa desconstruir) e na articulação das ideias que pretende realçar sobre as Ciências da Educação.
Não é um livro sobre, ou contra, as Ciências da Educação, mas um livro sobre, ou contra, o ensino da Matemática. Por isso, o título deveria ser este: O “Matematiquês” em discurso directo.
O que está por detrás deste livro?
Ao invocar o pensamento de Ravitch e Hirsch, como poderia fazê-lo para tantos outros, Nuno Crato situa-se no lado do conservadorismo educacional, cujas ideias sobre a escola são sobejamente conhecidas, sobretudo no ataque ao multiculturalismo, na defesa do currículo nacional e dos exames como instrumentos de discriminação social, na concordância com aprendizagens estandardizadas e na luta por valores tradicionais. É evidente que o autor fica pela crítica às Ciências da Educação como se estas fossem as responsáveis pelas políticas educativas e curriculares que têm moldado o sistema educativo português.
Quantos ministros são oriundos das Ciências da Educação? A engenharia e a economia têm sido o seu berçário.
Se poderemos concordar numa ou noutra ideia do autor, por exemplo, ao nível das competências, na globalidade, discordamos dele pela falta de rigor que demonstra na abordagem das temáticas, adoptando uma linguagem de panfleto e jornalismo, e na descontextualização das citações que identifica.
Se o autor aplicasse o rigor da Matemática ao que escreveu decerto que o resultado do livro seria outro.