dezembro 12, 2025

Diário de uma viagem a Timor-Leste (II)


 




 

A minha casa em Timor-Leste é o Hotel Timor. Nada estranho, todos me dão as boas-vindas, tudo se acomoda a ritmos já assimilados. Todos e todas são manos e manas, esse modo peculiar de tratamento pessoal que se adquire pela familiaridade de rostos. Uma vez instalado, a minha prioridade foi para a Internet, que revalidei no cartão comprado na Telecom Timor-Leste. Arrumada a mala, e personalizado o quarto com as minhas coisitas, tive a sorte de fazer uma sesta de três horas, pois aterrara em Dili, pela hora do almoço, onde me aguardavam pessoas das lides académicas.

Por mera coincidência, ao fim da tarde desse primeiro dia, e porque o tempo nunca perde a sua faceta de marco miliário, participei na receção da comunidade portuguesa em Dili ao novo embaixador português. Um pequenino Portugal virou acontecimento, em conversas amigas, em novos números de telefone e em agendas académicas ou culturais a explorar. Na primeira noite, nada dormi. Agora, já é domingo. Fiz a caminhada matinal quando os primeiros raios de sol pintavam de esperança a baía de Dili. Como a cidade cresce!

Novos projetos imobiliários, ligados ao turismo, que bem alto sobem no céu da cidade, sempre vigiada pelo imponente Cristo Rei, colocado (talvez, em ato de contrição) pela Indonésia, no período da ocupação, sobre a cabeça do crocodilo, transformado em montanha.  

E na segunda, terça, quarta, quinta e sexta fiz da UNTL a minha outra casa, dentro de uma cidade, quente e febril durante o dia, e dorminhoca nas noites de todos os dias. Pensei que disporia de algumas manhãs e tardes para escrever no convidativo ambiente do hotel Timor. Mas não! A escrita resvalou para o lado académico, que não termina jamais, já que novos projetos avançam, novos textos se justificam e novas dinâmicas têm lugar.

Tem sido uma semana de muitos afazeres, sempre em movimento de um lado para o outro, como as ruas desta fervilhante cidade, que parece atingir alguma acalmia quando me refugio no café de muitos aromas, e aí, sim, dou algum tempo aos meus textos sem tempo. Na UNTL, o meu mundo de uma semana inteira alimentou-se de reuniões, aulas, palestras, e também de muitas conversas, sempre focadas no futuro.

Terminei hoje, sexta-feira, as atividades de cooperação. Tive algum tempo para mim, e resolvi ver o pôr do sol na praia Areia Branca. Simplesmente deslumbrante! A intensidade afetiva de Timor-Leste entranhou-se ainda mais em mim, prendendo-me, com muito carinho, a esse estado de alma que só a saudade pode traduzir.

É sábado, 25 de outubro, dia de regresso. Estou no pequeno aeroporto de Dili, saboreando os dias de muitas vivências que para trás ficaram. Depois de longas horas de espera em Bali, e do voo intercontinental, cheguei a Istambul, na madrugada de domingo, fazendo parte do fluxo constante de pessoas, e conferindo identidade à sua enorme diversidade. Finalmente, chegou o embarque para o Porto. E depois da viagem sobre o mediterrâneo, Portugal a mim regressou, no quotidiano das pequenas coisas, com inesquecíveis pedaços de tempo que merecidamente pertencem a Timor-Leste.