NARCISO ALVES DA CUNHA - O LEGADO DA SABEDORIA
Mais
um ano, mais uma década e tantas outras, e cumprem-se, a 14 de janeiro de 2013,
os 101 anos da morte de Narciso Alves da Cunha. Quanto mais leio sobre este
courense, cujo legado é o da sabedoria, através quer do que escreveu, quer do
que foi como homem político, com voz ativa no município e no senado
republicano, para além da sua formação de clérigo e de bacharel em direito,
mais me entusiasma o seu conhecimento e sobretudo a sua dedicação às terras de
Coura. Não há dúvida alguma que foi o que escreveu até hoje as palavras mais
dedicadas - e bairristas, há que dizê-lo! - a uma terra que escolheu como berço
e a quem prestou o seu tributo, numa comunhão com o povo, que sempre foi o seu
lema de homem comprometido com a sua origem rural.
Na
entrevista que concedeu ao jornal “A Capital”, a 14 de junho de 1911, no
momento em que assumiu o seu lugar de senador, Narciso Alves da Cunha proferiu
estas palavras: “O meu partido é o Povo, principalmente o rural, de onde
provenho e com quem sempre tenho vivido”.
Em
intervenções que fez no senado, tendo-se revelado um tribuno na oratória, com
ideias e com capacidade de dissuasão, disse a 22 de janeiro de 1911: “Vou
pedir-lhes que desçam do sétimo céu das suas teorias e quiçá das suas
filosofias bizantinas e venham à terra observar os costumes, os usos, as
práticas, o feitio, a índole e as necessidades do povo, para depois, poderem
argumentar. Nesse terreno, talvez eu possa discutir e acompanhá-los”.
Ainda
na mesma intervenção: “Ninguém desconhece, Sr. presidente e Srs. senadores, que
o povo do Norte, e, sobretudo, o povo do Minho, é extremamente agarrado à
terra, ao solo em que nasceu, à paróquia; é um povo que se não desloca; é um
povo que nasce, cresce, muda de estado e morre sem quase sair da paróquia em
que nasceu ou constituiu família. Pois, acaso, poderemos nós chegar ao
convencimento de que o povo dos campos há de ir procurar a escola, se esse povo
não só está agarrado à terra, mas, a todo o momento, precisa de tratar das suas
culturas, do amanho da mesma terra, das regas, dos adubos, e até da sua casa
doméstica, em geral, pobre, e às vezes crivada de dívidas? Sem se assegurar o
pão do corpo, não se procura o do espírito, é uma verdade incontrastável. Ou
nós havemos de tomar a iniciativa de levar a esta gente a luz, de que precisa,
até dentro das paredes enegrecidas das suas casas, ou, então, havemos de vê-la,
constante e indefinidamente, na escuridão em que tem vivido até agora?”
Por
último, e mantendo-se o registo da mesma intervenção parlamentar, Narciso Alves
da Cunha definiu a sua ambição política, ao mesmo tempo que traçou o seu
futuro: “É a minha própria consciência que o afirma; e, nesses poucos dias de
vida que me restam, o meu ideal continuará a ser o Povo”.
Poucos
dias, de facto restaram, pois dois anos passados recebia-se, através de um
fatídico telegrama, a triste e dura notícia da sua morte.
Resta-nos
recordar e eternizar a sua memória pelo seu legado de sabedoria.