Estamos
em meados do século XX, quase nos tempos findos da II guerra mundial. Coura
vivia em sobressaltos, sem informação e a que se conseguia ouvia-se pela rádio.
Já
tinha passado o pesadelo da guerra civil de Espanha, que se revelava pelo
barulho longínquo das armas de guerra e pelas mortes que covardemente
aconteciam, e o futuro não se vislumbrava na linha do horizonte.
O
remédio era mesmo emigrar. Partir para terras do Brasil, à procura de sucesso
era o desejo que mais se inscrevia nos homens e mulheres deste tempo. E muitos
da família Pacheco, com origem em Ferreira, fizeram-no.
Primeiro,
foi o Abílio, que partiu na sua adolescência em direção ao Rio de Janeiro. Chegou,
trabalhou e morreu. Ainda casou e deixou um filho que entretanto outro filho
deixou, desconhecendo por inteiro as raízes de seu avô.
Em
segundo, partiu Augusto, um exímio carpinteiro. Um verdadeiro gentleman, de finura no trato e
carinhoso nas palavras de família.
A
cidade do Rio de Janeiro ainda o reteve uma década, mas regressou para o seu
ofício, com uma outra imagem do mundo, criando filhos, que também emigraram,
mas agora para a Europa.
Por
último, Amadeu. Fez-se emigrante por motivos políticos. Teve uma querela
jurídica e, atempadamente, foi avisado, por voz amiga, que o melhor seria
partir, para não ser apanhado nas malhas da Pide.
Assim
o fez. Quase clandestinamente, chegou ao Rio de Janeiro e imediatamente começou
a trabalhar, como carpinteiro, na ampliação do porto de mar. Passou anos e anos
por ali, mas depois tornou-se operário de uma fábrica na Vila Isabel, mesmo ao
lado do Maracanã.
A esposa logo apanhou um transoceânico e a
vida deles deixou de ser courense. Também os dois filhos fizeram o mesmo
percurso, partilhando o mesmo destino: partir para não mais voltar
Por
Coura ficaram Arnaldo e Cândida, os restantes membros da família de José e
Carlota. Estiveram sempre em contacto com os irmãos, mas a ligação foi-se
tornando mais ténue, a não ser com Augusto, entretanto regressado às origens.
Receberam
a notícia da morte dos irmãos e choraram na sua dor interior de uma família
destroçada pela emigração. Sabiam como eram as suas vidas longínquas, trocavam
cartas e fotografias e aproveitavam a Páscoa para reunir a família de Coura e
saber novas de terras brasileiras.
Por
isso, ainda considero que a Páscoa é um momento de confraternização,
trazendo-me de volta a família da emigração, com tudo o que isso significa de
dor silenciosa.