Terminada a campanha eleitoral, depois de tantos meses de incertezas e de tantas palavras mil vezes ditas, terminada, ainda, a utopia das promessas eleitorais, chegou a hora da verdade.
Não interessa o vencedor.
Já se sabia que a mudança teria de acontecer, mais cedo ou mais tarde, pois quem tem o desgaste das decisões impopulares já conhece o seu destino político, embora esta derrota pudesse ter sido evitada, caso tivesse existido esclarecimento por parte de certos dirigentes nacionais, que sempre teimam em não reconhecer a realidade em que vivem.
Terminou, por isso, o tempo dos políticos, pelo menos, por três a quatro anos.
Começa, agora, o tempo dos técnicos especialistas em economia.
São os “troikianos” que passam a governar Portugal.
Os partidos vencedores apenas servem para escolher as pessoas que vão executar o que é imperioso fazer, alimentando assessorias, cargos e mais cargos, numa roda-viva de mudança no interior dos ministérios.
Até tantos de tantos reduz-se a taxa das empresas para a segurança social, até finais daquele mês e daquele ano sobem-se os impostos, privatiza-se o que é público e aumenta-se o que o simples cidadão tem de pagar pelos serviços públicos.
Depois, reduzem-se as freguesias e os concelhos, manda-se para o desemprego funcionários autárquicos e reduz-se o orçamento das autarquias em 15%.
A mudança parece que começa, desta vez, de baixo para cima, já que não é expectável que o Estado reduza o seu despesismo nas mordomias, mesmo que o governo venha a ter menos ministros, pois aumentarão, decerto, as secretarias governamentais.
O Estado gasta em excesso consigo próprio, tornando-se incompetente no momento em que o faz.
Só que a redução dos concelhos e das freguesias, a realizar até Julho de 2012, com aplicação nas próximas eleições, em 2013, desencadeará mais polémica e permitirá o confronto entre territórios desavindos, sendo raros os casos em que a mudança acontece por consenso.
E neste caso, os “troikianos”, os nossos verdadeiros governantes, que nos visitarão de três em três meses, durante três anos, vão presenciar lutas que jamais imaginaram, assistindo, na sua função de técnicos, a uma questão que mexe com tradições e emoções.
Sim, pertencer a um território é uma questão emocional, que sempre transportamos connosco, tornando-se difícil neste campo tomar decisões meramente técnicas.
Mas sobre isso, os políticos, na campanha eleitoral, nada disseram, calaram-se, não abriram a boca e comportaram-se como se nada fosse com eles.
E não é difícil de adivinhar quem mais sofrerá as consequências. E a questão inverte-se: os que ganham hoje são os que perdem amanhã, pois é este o verdadeiro jogo da democracia.