A minha casa em
Timor-Leste é o Hotel Timor. Nada estranho, todos me dão as boas-vindas, tudo
se acomoda a ritmos já assimilados. Todos e todas são manos e manas, esse modo
peculiar de tratamento pessoal que se adquire pela familiaridade de rostos. Uma
vez instalado, a minha prioridade foi para a Internet, que revalidei no cartão
comprado na Telecom Timor-Leste. Arrumada a mala, e personalizado o quarto com
as minhas coisitas, tive a sorte de fazer uma sesta de três horas, pois
aterrara em Dili, pela hora do almoço, onde me aguardavam pessoas das lides
académicas.
Por mera
coincidência, ao fim da tarde desse primeiro dia, e porque o tempo nunca perde
a sua faceta de marco miliário, participei na receção da comunidade portuguesa em
Dili ao novo embaixador português. Um pequenino Portugal virou acontecimento,
em conversas amigas, em novos números de telefone e em agendas académicas ou
culturais a explorar. Na primeira noite, nada dormi. Agora, já é domingo. Fiz a
caminhada matinal quando os primeiros raios de sol pintavam de esperança a baía
de Dili. Como a cidade cresce!
Novos projetos
imobiliários, ligados ao turismo, que bem alto sobem no céu da cidade, sempre
vigiada pelo imponente Cristo Rei, colocado (talvez, em ato de contrição) pela Indonésia,
no período da ocupação, sobre a cabeça do crocodilo, transformado em montanha.
E na segunda, terça,
quarta, quinta e sexta fiz da UNTL a minha outra casa, dentro de uma cidade, quente
e febril durante o dia, e dorminhoca nas noites de todos os dias. Pensei que
disporia de algumas manhãs e tardes para escrever no convidativo ambiente do hotel
Timor. Mas não! A escrita resvalou para o lado académico, que não termina
jamais, já que novos projetos avançam, novos textos se justificam e novas
dinâmicas têm lugar.
Tem sido uma semana
de muitos afazeres, sempre em movimento de um lado para o outro, como as ruas
desta fervilhante cidade, que parece atingir alguma acalmia quando me refugio
no café de muitos aromas, e aí, sim, dou algum tempo aos meus textos sem tempo.
Na UNTL, o meu mundo de uma semana inteira alimentou-se de reuniões, aulas,
palestras, e também de muitas conversas, sempre focadas no futuro.
Terminei hoje, sexta-feira,
as atividades de cooperação. Tive algum tempo para mim, e resolvi ver o pôr do
sol na praia Areia Branca. Simplesmente deslumbrante! A intensidade afetiva de
Timor-Leste entranhou-se ainda mais em mim, prendendo-me, com muito carinho, a
esse estado de alma que só a saudade pode traduzir.
É sábado, 25 de
outubro, dia de regresso. Estou no pequeno aeroporto de Dili, saboreando os
dias de muitas vivências que para trás ficaram. Depois de longas horas de
espera em Bali, e do voo intercontinental, cheguei a Istambul, na madrugada de
domingo, fazendo parte do fluxo constante de pessoas, e conferindo identidade à
sua enorme diversidade. Finalmente, chegou o embarque para o Porto. E depois da
viagem sobre o mediterrâneo, Portugal a mim regressou, no quotidiano das
pequenas coisas, com inesquecíveis pedaços de tempo que merecidamente pertencem
a Timor-Leste.







