Depois de uma passagem fugaz, mas intensa e exploradora de locais inesquecíveis, por exemplo, o grande bazar (a catedral labiríntica do consumo popular) e a mesquita azul (a omnipresente presença da religião muçulmana), por Istambul, a cidade global, cosmopolita e ponto de encontro das civilizações ocidental e oriental, viajei, de comboio, para Eskishir – uma cidade do interior da Turquia.
Todos nós temos expetativas muito diversas quando visitamos pela primeira vez um país. Posso dizer que sobre a Turquia mantinha a curiosidade de conhecer Istambul, a cidade que já foi Bizâncio e Constantinopla, e entender por que razão há motivos ou não para a adesão à União Europeia.
Satisfeita a primeira, pude observar o quotidiano da população turca e pelas conversas que tive com muitas pessoas poder-se-á argumentar que não deve ser a Turquia a querer entrar na União Europeia, mas precisamente o contrário: é a União Europeia que precisa da Turquia.
Para além da questão da religião, que suscita muitos receios aos políticos de corredores infindáveis, há a pujança económica deste país, com uma população de 70 milhões e com um comércio muito desenvolvido. Agora compreendo melhor a posição da França e da Alemanha, já que com a Turquia na União Europeia, o seu poder de decisão sairia enfraquecido.
Quanto à religião, é uma outra realidade que é simplesmente diferente. A Turquia tem uma das sociedades mais laicizadas, ainda que a presença da religião esteja em todos os lados, sobretudo pelo som proveniente dos minaretes que transportam a voz altifalantada almuadem, num ritual que se repete cinco vezes ao dia.
Depois de um período de reza, e no centro histórico otomano de Eskishir, não resisti a entrar numa mesquita, depois de ter cumprido todos os procedimentos exigidos. Na sala circular da mesquita apenas estava eu, contemplando o silêncio e olhando avidamente para todos os pormenores.
Eis que chega um crente muçulmano e coloca-se a meu lado. Sentou-se. Pediu-me para o fazer também. Fez-me perguntas, em turco, e respondi, em português. Entre nós houve um diálogo mais de expressões faciais, de contentamento, que de palavras. Senti-me protegido. Por ali ficamos, em diálogo inter-religioso por mais uns minutos.
Certamente que deixamos as palavras para os nossos deuses.