Que nada se sabe!
Esta frase pode significar muita coisa, mas é o título de um livro, escrito entre os séculos XVI e XVII, por Francisco Sanches.
Tendo sido denominado um precursor de Descartes, o filósofo da dúvida metódica, o bracarense Francisco Sanches não quis dizer que nada sabemos sobre o mundo ou sobre as coisas, apenas que o conhecimento dos homens não pode ser superior ao conhecimento, inacessível, de Deus.
Colocando de lado as questões mais ligadas ao conhecimento, e entrando no espaço político, parece que nada sabemos sobre o nosso futuro como país.
Paira sobre os portugueses um certo nervosismo e uma justa desconfiança relativamente aos políticos que nos têm governado nas últimas décadas.
Nada sabemos sobre o que nos espera nos próximos anos e décadas.
No entanto, adivinha-se que a maioria dos portugueses será confrontada com muitas dificuldades, enquanto, alguns, uma minoria que tem crescido enormemente, têm um paraíso dourado à sua frente. São os tais das mais-valias financeiras e os que politicamente dão sentido à célebre frase do António Guterres: the jobs for the boys (“os empregos para os rapazes” – amigos do poder, obviamente).
Sobre a crise económica nada sabemos. No passado, nada nos disseram de verdadeiro, já que nos enrodilharam em promessas e mais promessas que jamais dariam resultados. Promessa vinda da esquerda, por vezes cega quanto às efectivas possibilidades de mudar, e promessa oriunda da direita, quase sempre eufórica sobre as facilidades imediatas da mudança.
O mundo político parece que nada sabe sobre a vida dos portugueses. Apenas sabe que é um povo contribuinte, pagante ou não pagante de impostos, dependendo dos mais honestos e dos mais espertinhos, e sobre quem se poderá sempre aumentar o peso do dia-a-dia, mesmo que isso signifique despedimentos, redução de salários (para sempre, diz-se!), subida de impostos, levantamento de barreiras na educação e na saúde, enfim, o anúncio que o Estado-social vai enfraquecendo, qual moribundo que corre para a sua própria cova.
Sendo já enorme a crise, porque Portugal sempre teve a tendência doentia para se endividar no estrangeiro, ficando nas mãos dos investidores financeiros, as tais figuras invisíveis que constituem o mercado, nada se sabe sobre o que ainda falta acontecer nos próximos tempos.
Vamos cair nas garras do poder do Fundo Monetário Internacional? Vamos pedir para a porta da União Europeia?
Não, não vamos! Sim, vamos!; Possivelmente, vamos, como aconteceu aos gregos e aos irlandeses!. Obrigatoriamente, vamos, para que os espanhóis e, mais tarde os italianos, não entrem em crise.
Apesar de nada se saber sobre o dia de amanhã, muitos jovens portugueses já sabem que o seu futuro não passa por este país, mesmo estando mais habilitados a responder a novos desafios.
E um país que expulsa os seus jovens mais qualificados, como no passado expulsou os seus adultos menos qualificados, nada sabe sobre si mesmo.
Que realmente se pode saber sobre nós portugueses?