Completamente inundados por uma crise financeira que afecta de forma tão dura e cruel muitos portugueses, para não falar da falta de credibilidade internacional que o país começa a manifestar, com cenários macroeconómicos desfavoráveis a médio prazo, muitos de nós não sabem o que fazer.
Como não se pode enterrar a cabeça na areia, precisamos de olhar para o presente e arranjar ideias firmes sobre o modo menos doloroso de sair desta estúpida crise.
Há uma ideia geral sobre a qual todos temos a mesma concordância: Portugal tem vivido, ao longo dos últimos séculos, acima das suas possibilidades reais. A história do século XIX, sobretudo da independência do Brasil, revela que as contas públicas sempre foram deficitárias, sendo necessário pedir emprestado (e pagar os juros elevados, obviamente) lá fora.
Se o tio-patinhas do Estado Novo ainda amenizou esta tendência, ainda que os gastos coloniais fossem depauperantes para o país, antes de 1926 e depois de 1974, a situação agravou-se de forma significativa. Vivendo-se com dinheiro emprestado, é evidente que a riqueza criada no país precisa de aumentar ainda mais, o que não tem acontecido.
Há uma outra ideia sobre a qual não pode haver discordância, mas que teima em persistir: o Estado gasta mais daquilo que pode.
O despesismo reinante do Estado não pára de aumentar, tomando-se medidas indevidas não só para multiplicar a criação de organismos e assegurar assessorias políticas, bem como para garantir elevados ordenados e incríveis mordomias àqueles que andam pelos corredores do poder (e que não se esgota no governo da República, havendo outros lugares).
Também não pode haver discordância sobre esta ideia: se a crise tem de ser resolvida, quem mais deve contribuir para a sua resolução são que têm mais meios económicos, fazendo-se com que a justiça da crise seja redistributiva, ou seja, que a coesão social seja um factor real e que os que mais têm sejam aqueles que mais venham a contribuir para a descida do défice das contas públicas.
No entanto, a realidade dos portugueses parece ser outra. Como não creio em milagres políticos, nem tão pouco me encanto com promessas descabidas, os próximos anos serão duríssimos, independentemente da cor dos governos ou da cara dos políticos.
Depois de tantos anos e décadas de descuidos políticos, há, agora, regras a cumprir, regras essas que são determinadas pela União Europeia, e possivelmente pelo Banco Mundial, pois já não sabemos sair deste buraco em que estamos cada vez mais enterrados.
E como ainda mantemos a cabeça à superfície desse buraco, ainda vai dando para observar quando é que o salvamento pode chegar, esperando-se que seja rápido e que as decisões políticas sejam as mais adequadas, pois, caso contrário, toda uma geração de jovens, que agora começa a procurar trabalho, pode ficar irremediável e totalmente perdida.