agosto 25, 2010

Volta a Portugal ....ou de uma "vueltita"?


Naquele ano longínquo, dos meus anos de infância já crescida, talvez a entrar para a escola, data que nos limita o antes e o depois de muitas das nossas memórias, recordo-me de ter assistido, na Volta da Quinta, à passagem, no sentido Extremo-Paredes de Coura, da volta a Portugal em bicicleta.
Sei que foi uma tarde de festa, de um lindo espectáculo, com muitos carros, de propaganda e de apoio, e com corredores que mal se viram, dada a insuficiente subida da recta da Volta da Quinta.
Decorridos tantos anos, assisti à passagem de mais uma volta, tendo escolhido o mesmo local e tendo colocado as mesmas expectativas. Por isso, fui mais cedo, levei também parte da família, e juntei-me a tantos outros que se foram posicionando nos melhores lugares.
Porém, as circunstâncias agora são outras. Não as do lugar, mas as do tempo.
O lugar continua a ser bom para ver passar a volta, com um amplo ângulo de visão, que leva a que aí ocorra, à mesma, muita gente (daí que, nos jornais do dia seguinte, os jornalistas afirmassem que a volta tivera um grande apoio em Paredes de Coura, possivelmente registando o entusiasmo da Volta da Quinta!
As circunstâncias do tempo alteraram-se para pior.
O mercado, que sempre animou a volta, funciona diferentemente. Já não há carros de publicidade, e tantos eram os que passavam antes dos corredores, distribuindo pequenos-nada!
Desta vez passou um único carro de publicidade, num linguajar espanholado, que vendia (sim, vendia), a cinco euros, bugigangas oficiais da volta.
Depois desse carro, e pouco antes de os corredores aparecerem, começou o triste espectáculo da polícia de trânsito, tentando impor, de forma inútil, a ordem em cruzamentos e entroncamentos, deixando largos espaços de tempo, o que permitia que carros e motas estranhos pudessem fazer parte da caravana.
No espaço que observei, a GNR local não teve qualquer participação, deixando-se toda a competência para os senhores das motos reluzentes, já que o mercado funciona de um outro modo, sendo necessário minimizar gastos. E cada vez mais, e não só para a volta, a palavra redução assume foros de estupidez, que não se compreende em certos casos.
Os corredores, os principais da volta, passam fugidiamente, não se vislumbrando, devido à publicidade das camisolas, quem levaria a camisola amarela, e a que equipas pertenceriam, pois quase todos fazem parte de equipas dominadas por marcas publicitárias e pelo mercado espanhol.
Já não há grandes nomes portugueses no ciclismo e os que vão existindo apenas podem ter acesso à conquista de uma etapa. Se ganham a volta, logo são desclassificados por doping, perdendo-se, com isso, o encanto de outrora, em que os nomes portugueses mandavam de forma autoritária na estrada da competição.
As equipas portuguesas apagaram-se e deram lugar às segundas figuras de equipas espanholas, originando o que bem se poderia chamar, hoje em dia, “prólogo da volta a Espanha” e não, propriamente, tal como parece acontecer, “volta a Portugal em bicicleta”.