janeiro 26, 2014

NARCISO ALVES DA CUNHA - O LEGADO DA SABEDORIA


Mais um ano, mais uma década e tantas outras, e cumprem-se, a 14 de janeiro de 2013, os 101 anos da morte de Narciso Alves da Cunha. Quanto mais leio sobre este courense, cujo legado é o da sabedoria, através quer do que escreveu, quer do que foi como homem político, com voz ativa no município e no senado republicano, para além da sua formação de clérigo e de bacharel em direito, mais me entusiasma o seu conhecimento e sobretudo a sua dedicação às terras de Coura. Não há dúvida alguma que foi o que escreveu até hoje as palavras mais dedicadas - e bairristas, há que dizê-lo! - a uma terra que escolheu como berço e a quem prestou o seu tributo, numa comunhão com o povo, que sempre foi o seu lema de homem comprometido com a sua origem rural. 
Na entrevista que concedeu ao jornal “A Capital”, a 14 de junho de 1911, no momento em que assumiu o seu lugar de senador, Narciso Alves da Cunha proferiu estas palavras: “O meu partido é o Povo, principalmente o rural, de onde provenho e com quem sempre tenho vivido”.
Em intervenções que fez no senado, tendo-se revelado um tribuno na oratória, com ideias e com capacidade de dissuasão, disse a 22 de janeiro de 1911: “Vou pedir-lhes que desçam do sétimo céu das suas teorias e quiçá das suas filosofias bizantinas e venham à terra observar os costumes, os usos, as práticas, o feitio, a índole e as necessidades do povo, para depois, poderem argumentar. Nesse terreno, talvez eu possa discutir e acompanhá-los”.
Ainda na mesma intervenção: “Ninguém desconhece, Sr. presidente e Srs. senadores, que o povo do Norte, e, sobretudo, o povo do Minho, é extremamente agarrado à terra, ao solo em que nasceu, à paróquia; é um povo que se não desloca; é um povo que nasce, cresce, muda de estado e morre sem quase sair da paróquia em que nasceu ou constituiu família. Pois, acaso, poderemos nós chegar ao convencimento de que o povo dos campos há de ir procurar a escola, se esse povo não só está agarrado à terra, mas, a todo o momento, precisa de tratar das suas culturas, do amanho da mesma terra, das regas, dos adubos, e até da sua casa doméstica, em geral, pobre, e às vezes crivada de dívidas? Sem se assegurar o pão do corpo, não se procura o do espírito, é uma verdade incontrastável. Ou nós havemos de tomar a iniciativa de levar a esta gente a luz, de que precisa, até dentro das paredes enegrecidas das suas casas, ou, então, havemos de vê-la, constante e indefinidamente, na escuridão em que tem vivido até agora?”
Por último, e mantendo-se o registo da mesma intervenção parlamentar, Narciso Alves da Cunha definiu a sua ambição política, ao mesmo tempo que traçou o seu futuro: “É a minha própria consciência que o afirma; e, nesses poucos dias de vida que me restam, o meu ideal continuará a ser o Povo”.
Poucos dias, de facto restaram, pois dois anos passados recebia-se, através de um fatídico telegrama, a triste e dura notícia da sua morte.
Resta-nos recordar e eternizar a sua memória pelo seu legado de sabedoria.

 2013

janeiro 01, 2014

Paredes de Coura em 1932
In "Anuário do Distrito de Viana do Castelo", Volume I, pp. 243-247
http://gib.cm-viana-castelo.pt/documentos/20100331125702.pdf