abril 03, 2013

Tomada de posse da Presidência do Instituto de Educação
 
A tomada de posse da nova Presidência do Instituto de Educação da Universidade do Minho realiza-se esta quinta-feira, dia 4, às 16h30, no auditório do Instituto de Educação, sito no campus de Gualtar, em Braga. A cerimónia de investidura é presidida pelo Reitor António M. Cunha.
 
Presidente:
Professor Doutor José Augusto Brito Pacheco
  
Vice-Presidentes:
Professora Doutora Leonor Maria Lima Torres
Professora Doutora Ana Maria Silva Pereira Henriques Serrano
  
Convida-se toda a comunidade académica a participar nesta sessão.
 
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Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem
Universidade do Minho
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março 26, 2013


Estamos em meados do século XX, quase nos tempos findos da II guerra mundial. Coura vivia em sobressaltos, sem informação e a que se conseguia ouvia-se pela rádio.
Já tinha passado o pesadelo da guerra civil de Espanha, que se revelava pelo barulho longínquo das armas de guerra e pelas mortes que covardemente aconteciam, e o futuro não se vislumbrava na linha do horizonte.
O remédio era mesmo emigrar. Partir para terras do Brasil, à procura de sucesso era o desejo que mais se inscrevia nos homens e mulheres deste tempo. E muitos da família Pacheco, com origem em Ferreira, fizeram-no.
Primeiro, foi o Abílio, que partiu na sua adolescência em direção ao Rio de Janeiro. Chegou, trabalhou e morreu. Ainda casou e deixou um filho que entretanto outro filho deixou, desconhecendo por inteiro as raízes de seu avô.
Em segundo, partiu Augusto, um exímio carpinteiro. Um verdadeiro gentleman, de finura no trato e carinhoso nas palavras de família.
A cidade do Rio de Janeiro ainda o reteve uma década, mas regressou para o seu ofício, com uma outra imagem do mundo, criando filhos, que também emigraram, mas agora para a Europa.
Por último, Amadeu. Fez-se emigrante por motivos políticos. Teve uma querela jurídica e, atempadamente, foi avisado, por voz amiga, que o melhor seria partir, para não ser apanhado nas malhas da Pide.
Assim o fez. Quase clandestinamente, chegou ao Rio de Janeiro e imediatamente começou a trabalhar, como carpinteiro, na ampliação do porto de mar. Passou anos e anos por ali, mas depois tornou-se operário de uma fábrica na Vila Isabel, mesmo ao lado do Maracanã.
A esposa logo apanhou um transoceânico e a vida deles deixou de ser courense. Também os dois filhos fizeram o mesmo percurso, partilhando o mesmo destino: partir para não mais voltar
Por Coura ficaram Arnaldo e Cândida, os restantes membros da família de José e Carlota. Estiveram sempre em contacto com os irmãos, mas a ligação foi-se tornando mais ténue, a não ser com Augusto, entretanto regressado às origens.
Receberam a notícia da morte dos irmãos e choraram na sua dor interior de uma família destroçada pela emigração. Sabiam como eram as suas vidas longínquas, trocavam cartas e fotografias e aproveitavam a Páscoa para reunir a família de Coura e saber novas de terras brasileiras.
Por isso, ainda considero que a Páscoa é um momento de confraternização, trazendo-me de volta a família da emigração, com tudo o que isso significa de dor silenciosa.

março 04, 2013


Saí de Tóquio em direção a Singapura e ainda fui a tempo de presenciar comemorações do novo ano chinês, em que o bairro de Village se encheu de barracas de comes e bebes, trazendo-me à memória o que acontece em Coura todos os anos, quando o largo da feira se enche de comida tradicional e se empanturra de vinho e cerveja.
Mesmo sendo um ponto de passagem, pois é um dos maiores centros distribuidores do mundo ao nível de passageiros aéreos e de contentores comerciais, Singapura tem uma beleza urbana que jamais se pode esquecer. É principesca nos seus edifícios e exibe os sinais de uma das sociedades mais organizadas que poderemos conhecer, apesar de ser uma democracia imperfeita, lembrando a frase que se utiliza para os tempos gregos de Péricles e companhia.          
E chego a Timor, mais concretamente a Díli, levando na bagagem a expetativa de saber como iria reencontrar a cidade depois da saída da quase maioria do pessoal da ONU e também do contingente da GNR. E Díli mudou imenso. Há menos circulação de carros oficiais, ou de jipes superprotegidos de pessoas bem pagas internacionalmente, continuando mesmo assim o trânsito frenético de motas e de táxis.
Desta vez, circulei muito pouco dentro da ilha. Apenas fui a Liquiçá e Maubara, numa visita rápida, pois as estradas, como diz o Snr. Félix – um dos homens mais simples de Timor e um dos mais teóricos da sabedoria popular -., estão cada vez mais preguiçosas, ou seja, com muitos obstáculos que as tornam lentas e quase imprevisíveis.
Depois da forte de Maubara, chamou-me a atenção um conjunto de campas brancas, moídas de sujidade pelo tempo. Aproximei-me e, amarguradamente, contei, na primeira fila, 12, e na 2ª fila, cinco. Li, em voz alta, os seus nomes, todos eles escritos em língua portuguesa, e confirmei a data da sua morte, a 6 e 17 de abril de 1999. Todos jovens, entre os 14 e 22 anos. Que dor de alma esta imagem de incompreensão humana, sobretudo quando se está perante alguém que lutou para ser livre, acreditando no entendimento entre as pessoas. Mais uma vez, socorri-me do conhecimento do Snr. Félix, que me informou que se tratou de dois massacres. Fico sem palavras e um arrepio percorre-me o corpo, impondo-me o máximo de respeito por estes jovens, cobardemente assassinados.
Torno a ler os seus nomes, agora, no meu silêncio de sofrimento, e fico distraidamente a olhar para as águas azuis de um mar calmo que se prolongava à minha frente.
Gostaria de ter ficado assim mais tempo, mas tive de voltar a Díli, já que as estradas estavam inundadas de uma chuva copiosa que caíra sem parar durante algumas horas.

fevereiro 25, 2013

Acabo de estar três dias inteiros em Tóquio. Não há palavras que possam descrever tudo o que presenciei e senti, mas como a crónica me obriga, tenho de selecionar alguns desses momentos.
Se há cidades simples e complexas, Tóquio é uma delas. Tudo funciona bem, de forma superorganizada, no meio da mais vasta concentração de pessoas, que enchem por completo as ruas, sempre movimentadas.
Há regras socialmente aceites. Não se fuma na rua, a não ser em locais devidamente sinalizados, há respeito máximo pelas pessoas e os carros ocupam um lugar secundário.
Em contrapartida, há uma rede de metro por toda a cidade (de dez milhões, que é sensivelmente igual à população portuguesa), que ainda é o melhor guia que se pode escolher para ir a qualquer lado.
As ruas são, por isso, o palco principal e por elas transitam milhares de pessoas, em direções diferentes, dando vida e colorido a uma multidão que não dispensa as novas tecnologias, sobretudo tudo o que diga respeito a telemóveis e aparelhos individuais de música.
É uma cidade jovem, observando-se essa faceta na publicidade viva que torna os prédios mais coloridos. É uma cidade de parques e jardins, que enchem no fim de semana, como se fossem espaços obrigatórios de lazer.
É uma cidade de templos, com a sua espiritualidade oriental, em que a religião se vive mais por dentro do que por fora. É uma cidade de contrastes. De torres gigantes e de prédios urbanos que mais parecem linhas ondulantes numa paisagem perfeita. De uma delas, vê-se o espetáculo do pôr-do-sol no monte Fuji, um dos grandes símbolos do Japão.
Mas voltemos às ruas. Continuamos a ser surpreendidos pelos comportamentos das pessoas.
Ninguém passa à frente de ninguém; há o vício das filas; ninguém, aparentemente, se aborrece com o outro; há gestos de compreensão; ninguém furta o que é alheio; há um controlo de proximidade; ninguém ousa desobedecer às sinaléticas que estão por todo o lado.
Porém, Tóquio não é uma cidade cosmopolita, de todos os viajantes e estranhos possíveis. Permanece fiel a um modo de vida oriental, sem a ocidentalização que se verifica, por exemplo, em Singapura.
Tóquio é uma cidade única, que apenas conheci, em companhia dos meus filhos, em três dias. Mesmo assim, penso que é uma cidade que apenas se conhece depois de muitas horas de pés cansados.

janeiro 22, 2013

janeiro 20, 2013

 
 
"CANALHÍADES"
(escrito por alguém que observa a crise):
 
 
 
I
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.

IV

E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

Luíz Vais Sem Tostões



janeiro 16, 2013


Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumia-se, como faz um verme.

(Camilo Pessanha, Clepsidra, 1920)