março 30, 2008

Parlatório em educação

Neste imenso parlatório que é a educação, e sobretudo a escola, todos falam e todos querem ter razão. Não há mais nada que divida tanto as pessoas, como se cada um de nós tivesse a solução miraculosa para o que deve ser feito.
A propósito dos exames, e dos seus resultados, da avaliação dos professores, do estatuto dos alunos, das imagens do YouTube, com as cenas pouco dignificantes de uma sala de aula portuguesa, enfim, a propósito de tudo o mais que uma escola pode albergar, escrevem-se rios de tinto, fazem-se programas televisivos e regressam os iluminados de sempre: os que pensam que o problema da escola reside nos teóricos da educação, naqueles que mais têm investigado os problemas educacionais e naqueles que jamais tiveram a responsabilidade máxima de um ministério da educação.
Os discursos, com a pretensão de seram politicamente correctos, contra a educação e seus profissionais não são mais do que discursos vazios, que se esgotam em ideias e palavras sem sentido, como se a escola dos dias de hoje pudesse ser comparada à escola de ontem, esta elitista, aquela democrática.
Por mais argumentos que se esbocem, há, pelo menos, uma dura realidade que não pode ser colocada de lado: a escola desta década e deste século é uma escola de massas, a sua frequência é um imperativo social e não um desejo privado.
Um exercício simples: quem decide em educação? Não são, decerto, os que investigam e produzem conhecimento em educação, mas os que trazem para a educação os seus modos de olhar os problemas, como se a sociologia, a engenharia e a economia, a matemática, a título de exemplo, fossem os únicos quadros teóricos para responder de forma adequada às questões com que a escola se debate.
Já que não se calam, e já que dispõem de tanto espaço nos media, por que não pô-los a governar?




março 18, 2008

Auto-estrada digital em Paredes de Coura

No seguimento da aprovação pelas Assembleias Municipais dos cinco concelhos do Alto-Minho, a Assembleia da Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho, em reunião realizada na segunda semana de Março, aprovou a constituição de um empresa para a instalação e exploração da rede comunitária, ou seja, da rede de fibra óptica. Digamos que é a chegada da auto-estrada do mundo digital a Paredes de Coura. Consegue chegar primeiro que a de asfalto, perdida em projectos, em traçados, em avanços e recuos, enfim, na falta de prioridades políticas, estabelecidas pelo poder central, para os concelhos do Minho interior.
A rede digital permitirá que os courenses tenham acesso a uma série de serviços, de que os utentes de certas urbes já beneficiam, através do que é designado por cabo, incluindo televisão, telefone e Internet. Porém, e nestas coisas de inovações há os que ganham e os que perdem, nem todos os courenses serão beneficiados do mesmo modo, pois a tendência é para que, em primeiro lugar, sejam contactados os habitam zonas com maior densidade populacional. Depois, o mercado falará por si, já que esta empresa se encarrega unicamente de definir o traçado da ligação digital, competindo a outras empresas fazer a ligação final e fornecer o tão miraculoso sinal.
Não restam dúvidas que esta auto-estrada é da maior importância para o concelho de Paredes de Coura, mais ainda quando o mesmo sofre, de forma tão crónica, não só de uma doença territorial, conhecida, mais vulgarmente, pelo nome de interioridade.
Mesmo assim, e lembra-se que o capital social da referida empresa é misto, 49% privado e 51% público, embora o investimento seja mais privado (55%) que público (45%), o PSD local optou pela dúvida, pelo questionamento fútil e pelo cacarejar político.
Olhando para o que se passou na Câmara com os vereadores, que se abstiveram na votação, observa-se que a oposição não consegue estar do lado certo em momentos que são fundamentais para o concelho. Não creio que as suas dúvidas em relação a este projecto sejam as mais adequadas e não creio, de igual modo, que as suas posições correspondam às suas convicções. Estar do lado contrário também é saber quando se pode, e deve, estar do lado certo, votando-se favoravelmente o que é do interesse de todos, por mais divergências que existam.
Mas alguma vez um presidente de Câmara poderia rejeitar esta grande oportunidade, politicamente concertada no plano das actividades da Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho?

É evidente que não. Todos os presidentes dos dez concelhos do Alto-Minho, porque a Comunidade Intermunicipal do Vale do Lima também enveredou por idêntica iniciativa, optaram pela auto-estrada digital e decidiram investir em algo que pode fazer a diferença para que a interioridade de que sofrem não seja também a dos info-excluídos.

março 07, 2008

Dignidade dos professores

Um dos meus alunos de mestrado ofereceu-me uma camisola, de cor preta, com estas palavras escritas: "estou de luto pela educação". E disse-me: "não é para usar na manifestação, apenas para a guardar porque relembrará um dia histórico".
O dia histórico é dia 8 de Março de 2008, que ficará como sendo o maior protesto alguma vez realizados pelos professores dos ensinos básico e secundário.
No meio de tantas tempestades políticas, e os ministros pensam que são os deuses sagrados que detêm o poder de semear discórdias, resta a dignidade dos professores, feridos no que mais directamentediz respeito ao seu trabalho diário e silencioso. A avaliação de um professor é algo que não pode ser reduzido a um amontoado de despachos e ofícios como se de um mero funcionário se tratasse. Para além da sua natureza administrativa, o professor detém o valor da sua acção educativa e pedagógica que exige filtros especiais para ser avaliado correcta e sensatamente.
O que falta neste modelo de avaliação é precisamente a sensatez. Se o ministério persistir nesta deriva burocrática de funcionarização dos professores, resta-me, somente, aceitar as críticas daqueles que dizem que o "eduquês" volta ao ser melhor estilo. Mas a ministra, convém dizer, é socióloga na área da sua especialização. A leitura dos clássicos que têm escrito sobre a teoria dos conflitos e sobre a noção de autoridade talvez fosse uma boa saída para todo este gigante e absurdo problema.
Olhando para o que se passa, parece que os professores já leram esses textos, sabendo que há manifestações que representam mais do que um simples protesto.