janeiro 30, 2007

Livros - A fórmula de Deus

A fórmula de Deus – José Rodrigues dos Santos, Gradiva, 2006 (7ª edição)


Como uma notícia de telejornal, a leitura deste livro é fugaz, sendo que o leitor estará mais interessado em saber o conteúdo do enredo político-militar-religioso (muito previsível), desinteressando-se da escrita do texto, com um ou outro erro de construção sintáctica.


Só vento?

Em tempos de proclamação das energias renováveis, e em tempos em que se quer afirmar que, economicamente, cada consumidor de energia eléctrica deve ser um produtor, as câmaras municipais do Alto Minho, ligadas à comunidade intermunicipal Vale do Minho, decidiram vender a sua quota de participação na empresa que em breve produzirá energia limpa em termos ecológicos. Depois da experiência das câmaras dos Arcos de Valdevez e de Vila Nova de Cerveira, a de Paredes de Coura também seguiu esse mesmo caminho. A discussão nas reuniões de câmara e assembleia foi de ventania forte, algo turbulenta na da assembleia municipal. Por mais argumentos a favor ou contra, não se podendo dizer com total rigor e infalibilidade que custos esta decisão tem para o futuro, o presidente da câmara de Monção coloca o dedo na ferida: "as câmaras não têm que ser sócias de empresas privadas... o capital social só se converte em lucros dentro de uma década, ficando as autarquias ao sabor dos accionistas maioritários". Além disso vender a participação não significa vender os dedos e os anéis, pois o rendimento de 2,5% sobre a facturação é uma receita constante do município, ficando ainda as juntas de freguesia e os proprietários dos terrenos, onde estão instalados os aerogeradores, com rendimentos acrescidos.

janeiro 29, 2007

Filmes: Match Point, Woody Allen

Notas a ministros

O lugar de ministro da educação é um dos mais desgastantes aos olhos da opinião pública, sobretudo quando estão em causa decisões tomadas de forma inconsistente, a saber: exames do 12º ano (sobretudo a Química, com recursos para tribunais); aulas de substituição (também com recursos para tribunais); estatuto da carreira docente, etc., etc.
Por isso, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, numa escala de 0 a 20, é avaliada pelos portugueses, segundo sondagem publicada no dia de hoje pelo JORNAL DE NOTÍCIAS, com a nota de 8,3.
Por sua vez, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, é o único ministro que obtém positiva - 10,3.
Com as notas atribuídas bem precisamos de novos rostos, ainda que o primeiro-ministro continue com uma votação muito significativa.
Dá mesmo para acreditar?

Sísifo

Mais uma revista em educação: Sísifo.
No dicionário da mitologia grega e romana, de Pierre grimal, é dito que Sísifo é "o mais astuto dos mortais e também o menos escrupuloso ... a lenda de Sísifo abrange vários episódios, cada um dos quais é a história de uma astúcia".
E mais ainda: "Uma versão diz que Zeus o fulminou de imediato e o precipitou nos Infernos, onde lhe impôs como castigo que fizesse rolar eternamente um enorme rochedo na subida de uma vertente. Mal o rochedo atingia o cimo, voltava a cair mercê do seu próprio peso e o trabalho tinha de recomeçar".
Para que a pedra role, consultar:
ttp://sisifo.fpce.ul.pt/

janeiro 24, 2007

Filmes: Les uns et les autres, Claude Lelouch

Preâmbulo do estatuto da carreira docente (II)

Os textos preambulares dos normativos são ainda uma fonte documental para a investigação, quer pelo que apresentam no campo das intenções, ou da utopia, muitas vezes, quer pelas críticas que fazem a anteriores normativos e medidas políticas. Neste último caso, e lendo-se mais uma vez o preâmbulo do estatuto da carreira docente, salientar-se-á a crítica realizada pela actual equipa do Ministério da Educação aos sistemas vigentes da formação contínua e da avaliação do professor:
“… a formação contínua, em que o país investiu avultados recursos, esteve em regra divorciada do aperfeiçoamento das competências científicas e pedagógicas relevantes para o exercício da actividade docente. Do mesmo modo, a avaliação de desempenho, com raras excepções apenas, converteu-se num simples procedimento burocrático, sem qualquer conteúdo. Nestas condições, a progressão na carreira passou a depender fundamentalmente do decurso do tempo, o que permitiu que os docentes que permaneceram afastados da actividade lectiva durante a maior parte do seu percurso profissional tenham chegado ao topo da carreira”.
O que dirão os futuros decisores políticos?

janeiro 23, 2007

Filmes: Scoop, Woody Allen

Preâmbulo do estatuto da carreira docente (I)

Os textos preambulares dos normativos portugueses, pelo menos em educação, são uma fonte inesgotável de estudo, não por aquilo que expressam, sempre com ideias generalistas e brilhantes, mas sobretudo pelo desfasamento que há com a realidade das escolas.
Em tempos de negação do papel do professor como agente fundamental da educação escolar, o texto introdutório do Decreto-lei n. 15/2007, de 19 de Janeiro é taxativo: “O trabalho organizado dos docentes nos estabelecimentos de ensino constitui certamente o principal recurso de que dispõe a sociedade portuguesa para promover o sucesso dos alunos, prevenir o abandono escolar precoce e melhorar a qualidade das aprendizagens”.
Completamente de acordo, só que o processo de negociação deste estatuto introduziu conflitos que dificilmente serão esquecidos pelos educadores e professores.

janeiro 22, 2007

Livros - O tempo dos espelhos

O tempo dos espelhos – Júlio Machado Vaz, Texto Editores, 2006.
Li o livro para conhecer mais um pouco sobre Bernardino Machado e também para tentar compreender por que razão estas memórias, talvez apressadas, são escritas não em Mantelães, em Paredes de Coura, mas em Cantelães, uma freguesia do concelho de Vieira do Minho.
Ainda que a figura do presidente esteja sempre presente, Bernardino Machado somente aparece, numa síntese dos seus percursos políticos, nas páginas 70 e 71 e rapidamente dá lugar às dúvidas e críticas do autor, que apresenta os seus tempos como espelhos que reflectem memórias de uma família muito ligada a Paredes de Coura. E o autor esclarece: “Após a morte de meu pai, fui em busca do afecto “do lado de lá”. A correspondência do Avô Presidente para o neto não engana – era nele que confiava para satisfazer os seus pedidos, zelar pela saúde familiar, dar notícias. Uma das descobertas foi sinistra e divertida, meu Bisavô sofria da próstata. Mas aos noventa anos… Dela se queixava em 1941, escrevendo de Mantelães. Sonoridade suspeita, eu escrevo em Cantelães. Porque não me limitei a construir casa que rima com a dele e decidi copiar-lhe a doença aos cinquenta e cinco?”.

Viana, Braga e Minho...


O poder administrativo de Braga preocupa muito o autarca de Viana do Castelo, Defensor Moura. E afirma: “Somos mal interpretados quando reafirmamos a nossa vontade autonómica em relação ao distrito de Braga e ao Minho como uma província que nunca teve de facto poder administrativo e que muitas vezes é ressuscitada para interesses que não têm a ver com os de Viana do Castelo”.
Sabendo-se da sua notória desconfiança relativamente aos municípios do Alto Minho que fazem parte da Comunidade Intermunicipal Vale do Minho, fica-se agora a saber que o Minho como região (englobando os concelhos do Alto e do Baixo Minho) jamais será uma realidade administrativa se tal depender do seu voto ou poder de decisão.
Talvez Defensor Moura não queira comparar as duas regiões porque isso o obrigaria a reconhecer que a realidade de hoje não se compadece com a mera existência de um castelo numa cidade e num distrito que têm ficado para trás.Basta percorrer alguns indicadores de desenvolvimento e constatar como estas palavras são de puro bairrismo, cada vez mais obsoleto.

janeiro 21, 2007

Medidas... estatuto...

No sítio do Ministério da Educação podemos ler o documento 50 Medidas de Política para Melhorar a Escola Pública, que apresenta o conjunto das medidas e das acções lançadas, em 2006. Por coincidência ou não, a divulgação do power-point é feita no mesmo período em que é publicado o estatuto da carreira docente no Diário da República.
Será interssante relacionar, no futuro, o efeito destas medidas com o efeito do estatuto no modo de "sentir-se" a escola.

janeiro 19, 2007

Flores...

Finlândia

janeiro 16, 2007

Livros - D. Sebastião e o Vidente

D. Sebastião e o Vidente – Deane Barroqueiro, Porto Editora, 2006.

Para compreender a tragédia portuguesa, que pôs fim à nossa independência por largos anos, é necessário ler este livro, muito bem escrito e documentado em fontes históricas.
Através das inúmeras páginas, que se lêem com a vontade de chegar ao fim, tal é o enredo em que fica o leitor, descobrem-se as tramas que levaram D. Sebastião para o precipício colectivo em nome de desígnios próprios de um reizinho muito mal informado e desejoso de figurar nos anais da cristandade.
Se este jovem do romance tivesse tido uma educação sexual adequada, decerto que o saudosismo português teria outros contornos.

Imprensa regional

Em tempos de vacas magras, é natural que as vozes de protesto aumentem de forma compreensível, mais ainda quando se fala da gestão de recursos em função do apoio a jornais regionais. A propósito do porte pago, tudo aponta que os jornais que não se profissionalizem venham a ter sérias dificuladades de sobrevivência.
Vivendo da carolice de certas pessoas, os jornais nascidos e criados a partir de um pequeno grupo lentamente se vão transformando em projectos pessoais.
Olho para os dois jornais de Paredes de Coura e o tempo diz-nos tudo.
"O Notícias de Coura" é um jornal jovem, de três anos, com muitos colaboradores e com um director entuasiasmado, aberto à crítica, coadjuvado por um " grupo de jovens jornalistas" com quem muito aprenderiam se a redacção fosse obrigatoriamente profissionalizada.
"O Coura", já na adolescência (18 anos), luta contra si próprio, personalizado numa luta inglória como se outro mundo existisse para além do seu director, e alheio a qualquer projecto de profissionalização, pois nesse caso perderia o leit-motiv da sua existência.

Provérbio budista

"Quando o estudante está preparado, o mestre aparece".

janeiro 15, 2007

Fim de tarde...

Tampere, Finlândia.

Provérbio chinês

"Os professores abrem a porta, mas tens de entrar sozinho".

janeiro 12, 2007

Pôr-do-sol

Tampere, Finlândia

janeiro 11, 2007

Estatuto da carreira docente

Antes de partir para a Índia, o Presidente da República promulgou o estatuto da carreira docente do ensino não superior.
Assim quiseram a ministra e o governo, assim o fez o presidente.
Para os sindicatos é uma batalha perdida. Também poderia ser uma batalha ganha se tivermos em conta as alterações pontualmente introduzidas nas sucessivas versões.
Mas é uma batalha perdida, reconheçamos.
Falta saber se, doravante, os professores se sentirão mais motivados na sua profissão face ao percurso da carreira e às formas de avaliação.
No modo como o estatudo foi discutido e aprovado todos perderam, tendo ficado a certeza que há muito a fazer para que a escola recupere a credibilidade social.Com estes ou com outros actores.

janeiro 09, 2007

Primeiros resultados?


O Ministério da Educação revelou que, no recenseamento escolar, divulgado pelo GIASE, “o número de alunos matriculados no ano lectivo 2006/07 aumentou em 21 192, passando para 1 669 470 em relação a 2005/06, graças ao combate ao insucesso e ao abandono escolares”.
Eis o primeiro sorriso do Presidente da República!
O crescimento de alunos no sistema educativo português, mais acentuado no 3.º ciclo do ensino básico e no ensino secundário, revela ainda a fonte citada, deve-se essencialmente, ao “aumento dos alunos matriculados em cursos profissionalizantes, isto é, com certificação escolar e profissional, destinados a combater o insucesso e o abandono escolares. As matrículas nestes cursos de educação e formação de jovens aumentaram 112 por cento, ao passarem de 11 512 para 24 418”. Resulta ainda “do reforço da oferta do ensino público, que atraiu mais 10 509 alunos do que no ano lectivo anterior”.

Tal argumentação também deveria servir para constatar que o insucesso, para além de outros aspectos, é algo que é criado pela organização curricular, tanto dos cursos quanto dos conteúdos, métodos e processos de avaliação.

janeiro 08, 2007

Tristeza de país...

"Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó portugal, hoje és nevoeiro"

Fernando Pessoa, in Mensagem

janeiro 06, 2007

TLBES

O assunto referente à Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLBES) já está suficientemente dissecado pelos seus defensores e opositores. Se numa discussão há aspectos que devem ser reconhecidos como positivos e negativos, decerto que sobre esta temática há argumentos que ultrapassam o mero domínio da Linguísitca, não só pelo contexto escolar a que se aplica - do 1º ao 12º anos - mas sobretudo pela qualidade das aprendizagens.
A entrevista (PúBLICO, 6 de Janeiro) do Director da Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular nada esclarece, pois se, por um lado, diz que há alterações a fazer, e "isso não impede que a experiência continue", por outro, garante que "suspendemos a sua generalização. Não valia a pena impor um instrumento com o qual as pessoas não sabiam trabalhar".
A confusão aumemta quando o entrevistado apresenta a TLBES como um instrumento "que pode ajudar a combater o insucesso", anunciado que a sua aceitação depende de um teste prático. Mas qual?
"Saber se os alunos que aprenderam com a terminologia têm melhores resultados a Português" nos exames do 9º e 12º anos.
Não havendo perguntas sobre a TLBES nos referidos exames, o entrevistado espera que os resultados melhorem pelo simples contacto dos alunos com tal terminologia, ainda que reconheça que a mesma pode ser "um corpo estranho nas escolas".
A 2ª parte desta entrevista prevê-se para Julho deste ano e os resultados do teste prático serão fáceis de adivinhar.

janeiro 04, 2007

De que depende o sucesso educativo?

O ex-ministro da Educação, agora assessor do Presidente da República, mas não oficialmente para a área da educação, apresentou um programa de combate ao insucesso e abandono escolares, que seria transformado em normativo pela actual Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues.
Apesar de ser uma temática recorrente, em Portugal, nos últimos anos, o que se pode comprovar pelos programas dos sucessivos governos e pelas discussões sobre educação, o sucesso educativo ainda é uma miragem para muitos alunos do ensino básico e, ainda mais, do ensino secundário.
Mas como tem sido resolvido este problema? Muito facilmente: devolver à escolas a responsabilidade, esquecendo-se que o problema está também a jusante, ou seja, nas políticas educativas e curriculares, concretamente no que se ensina e no que se avalia em função dos planos curriculares e dos programas.
De modo mais fácil, o Ministério da Educação legislou, através do Despacho normativo n. 50/2005, de 9 de Novembro, sobre a avaliação sumativa interna, acreditando que o problema seria resolvido pela elaboração, ao nível da escola, de planos de recuperação, aplicáveis aos alunos que revelem dificuldades de aprendizagem.
Por mais positiva que seja a actuação dos professores no plano da pedagogia diferenciada, de programas de tutória, de aulas de recuperação, entre outras medidas, o sucesso educativo depende de uma profunda reforma que é necessário empreender no campo da organização curricular, sem que isso signifique, mais uma vez, novos programas e velhas medidas.

janeiro 02, 2007

Desafio presidencial

Relativamente às melhorias visíveis no funcionamento do sistema educativo, o Presidente da República dixit: “a qualidade do ensino, o estímulo à excelência e o combate sem tréguas ao insucesso e abandono escolar têm que ter sinais positivos já em 2007".
Presume-se que estas palavras estejam destinadas aos ensinos básico e secundário e a Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da educação, ainda que a qualidade do ensino e o insucesso escolar também façam parte dos problemas do ensino superior.
Porque os resultados em educação não são visíveis, a curto prazo, como na economia ou na justiça, bem se pode dizer que 2007 oferecerá a Cavaco Silva um tema de discordância para com José Sócrates, num momento em que um e outro terão os seus nomes ligados ao novo estatuto da carreira docente. Qualquer mudança em educação, tanta a da qualidade quanto a do abandono, requer um envolvimento dos professores, que vá para além do mero cumprimento de tarefas e do horário. Duvido que convocar os professores, neste momento, para esta batalha seja o mais correcto politicamente, sabendo-se que desejam, por todos os motivos, a substituição da ministra da educação.