setembro 24, 2006

Eduquês. Três livros. Três opiniões.

“O jumbo educacional ameaça despenhar-se e os culpados são os fornecedores de catering! Por que razão não ousa Nuno Crato responsabilizar, por exemplo, os principais [pro]motores das políticas educativas? Não eram eles quem detinha o jacto do poder?
É, aliás, surpreendente que a maioria dos Ministros da Educação (algumas deles figuras brilhantes) tenha o lastro não das Ciências da Educação, mas das Ciências (ditas) Exactas (designadamente, da Física e da Química). Esse facto não merece a Nuno Crato a mínima referência ou análise. Não lhe dirige um único reparo. E os únicos ministros que refere são Marçal Grilo, que “compreende” (em nota) e Maria de Lourdes Rodrigues, que cita favoravelmente. Para quem designa esta obra como O “Eduquês” em discurso directo, convenhamos que há “discurso” a mais e “directo” a menos. Pois quem são, afinal, caro Professor, os grandes responsáveis do estado ruinoso da educação? Os porteiros da 5 de Outubro? (Álvaro Gomes, Blues pelo Humanismo Educacional? 2006, pp.66-67).

Depois de dois ou três artigos, muito pouco divulgados, contra a “educratice”, o livro de Álvaro Gomes é a primeira resposta à linguagem do eduquês, dizendo abertamente que o livro de Nuno Crato contém afirmações menos felizes, pois unicamente repete, reproduz, retoma e repõe argumentos cansados e descosidos contra as Ciências da Educação.
Para além do conteúdo do debate é necessário saber quem são as personagens e o que as move.Como Álvaro Gomes sublinha, o livro em causa é superficial (melhor, é um livro nem) e o seu autor é um pedagólogo, que recorre à doxa e não ao rigor científico. Por isso, entender-se-á o oblíquo silêncio que os investigadores portugueses mantêm relativamente ao livro e ao seu autor. A crítica que Álvaro Gomes faz às Ciências da Educação pela não defesa da honra é, aliás, por ele explicada, já que seria travar um debate com alguém que não tem um pensamento educacional, que se move pela ideia de cruzada e que se identifica com os charlatães da velha pedagogia.

setembro 19, 2006

Eduquês. Três livros. Três opiniões.

“Do outro lado surge uma opinião pública difusa, que se manifesta descontente com o estado actual da educação e que tem a noção intuitiva de terem sido os teóricos da pedagogia dita moderna a conduzirem à situação presente (…) Umas vezes, essa discordância incide sobre aspectos relativamente secundários, como a linguagem hermética seguida por muitos teóricos da pedagogia. Estes são acusados de falarem “eduquês” – um nome castiço e feliz que o então ministro Marçal Grilo usou para classificar essa linguagem esotérica” (Nuno Crato, O “Eduquês” em discurso directo. Uma crítica da pedagogia romântica e construtivista, 2006, pp. 9-10).

A leitura deste livro é necessária? Talvez, embora o seu autor seja pobre nos argumentos que utiliza, nas fontes bibliográficas que consulta (exigir-se-ia muito mais a quem visa desconstruir) e na articulação das ideias que pretende realçar sobre as Ciências da Educação.
Não é um livro sobre, ou contra, as Ciências da Educação, mas um livro sobre, ou contra, o ensino da Matemática. Por isso, o título deveria ser este: O “Matematiquês” em discurso directo.
O que está por detrás deste livro?
Ao invocar o pensamento de Ravitch e Hirsch, como poderia fazê-lo para tantos outros, Nuno Crato situa-se no lado do conservadorismo educacional, cujas ideias sobre a escola são sobejamente conhecidas, sobretudo no ataque ao multiculturalismo, na defesa do currículo nacional e dos exames como instrumentos de discriminação social, na concordância com aprendizagens estandardizadas e na luta por valores tradicionais. É evidente que o autor fica pela crítica às Ciências da Educação como se estas fossem as responsáveis pelas políticas educativas e curriculares que têm moldado o sistema educativo português.
Quantos ministros são oriundos das Ciências da Educação? A engenharia e a economia têm sido o seu berçário.
Se poderemos concordar numa ou noutra ideia do autor, por exemplo, ao nível das competências, na globalidade, discordamos dele pela falta de rigor que demonstra na abordagem das temáticas, adoptando uma linguagem de panfleto e jornalismo, e na descontextualização das citações que identifica.
Se o autor aplicasse o rigor da Matemática ao que escreveu decerto que o resultado do livro seria outro.

setembro 17, 2006

Eduquês. Três livros. Três opiniões.

“Não. Nunca me fez falta [formação em Ciências da Educação]. Acho que as Ciências da Educação têm um contributo muito importante para o futuro da educação, mas têm uma linguagem e uma forma de abordar os problemas… Não me fez falta, e não sei se faz falta a alguém em termos de política educativa. Eu não tenho nada contra as pessoas das Ciências da Educação (…) As Ciências da Educação são uma área Conheço uns textos, mas a linguagem (…) O rigor, a disciplina, o trabalho fazem parte do processo educativo e, quanto mais cedo se aprende isto, melhor. Acho que, aqui, as Ciências da Educação simplificam um bocadinho” (Marçal Grilo, Difícil é sentá-los, 2001, p. 272).

A origem do termo “eduquês” é atribuída a Marçal Grilo, um engenheiro mecânico que teve tempo suficiente, como Ministro da Educação, para melhorar o sistema educativo português.
Não o fez. Agora, a culpa é das Ciências da Educação, pois, segundo as suas palavras, nada têm a acrescentar às políticas educativas, utilizam uma linguagem reticente e são simplificadoras.
Difícil, de facto, é compreendê-los, sobretudo quando deixam de ser ministros da educação e tentam dizer-nos que a culpa é dos outros.
Assim começa o percurso contra as Ciências da Educação, sendo certo que os seus detractores apenas conhecem uns textos, nada mais!

setembro 04, 2006

Descentralização

Nathalie Mons, num recente artigo, publicado na Revue Française de Pédagogie, refere que a realização de diversos estudos empíricos em inúmeros países sobre as políticas de descentralização, inseridas num contexto de mudança a nível mundial, permite retirar esta conclusão: se, por um lado, a descentralização reforça a assiduidade dos alunos e reduz o absentismo dos professores, por outro, não contribui para melhorar os resultados escolares e favorece o crescimento das desigualdades escolares.
No momento em que se fala tanto da escola como organização, seria oportuno reflectir se o problema dos resultados escolares depende unicamente da escola e das suas práticas organizativas.

setembro 02, 2006

Retenção/abandono no ensino básico

Os resultados de retenção/abandono e não conclusão dos alunos do ensino básico relativos ao ano lectivo 2004/05 não são melhores nem piores dos que se têm verificado na última década. Considerando os nove anos de escolaridade, e comparando os anos 2003-04/2004-05, verifica-se uma oscilação negativa de 0,4%, uma vez que passa de 11.4% para 11.8%.
Tendo como referência os resultados oriundos do Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE), a taxa de reprovação/abandono no 9º ano de escolaridade subiu 6,8%.
Em artigo de opinião (DN, 1/9/2006), a Ministra da Educação argumenta que “o aumento do número de alunos reprovados resulta directamente da introdução dos exames”. Todavia, em nota informativa do Gabinete de Imprensa do Ministério da Educação, de 11 de Julho de 2005, a argumentação é outra: “os resultados finais dos exames nacionais do 9º ano de escolaridade, que se realizaram este ano nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática registaram, de uma forma geral, taxas de aprovação em consonância com as classificações de frequência”.
Bem, não seria aconselhável que a Ministra da Educação tivesse conhecimento dos dados do seu gabinete de imprensa para fundamentar de uma forma mais rigorosa aquilo que entende escrever?